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Archive for agosto \19\+00:00 2009

A sensação de chuva de verão chegando é uma delícia… me traz a lembrança do friozinho gostoso que eu sentia quando deitava debaixo do ventilador com os cabelos molhados após o banho, depois de um dia inteiro brincando na piscina, sob o sol quente do verão do interior de São Paulo. Isso geralmente acontecia no início da noite, enquanto eu esperava minha avó terminar o jantar, deitada na cama do meu tio Fernando. Tudo tão simples e perfeito. Minha melhor lembrança de verão.

 A minha melhor lembrança de inverno também é das férias na casa da minha avó, quando eu passava julho inteiro com a única obrigação de ler o livrinho recomendado pela escola. Minha irmã, minha prima, a tia Clarice e eu jogávamos baralho na cozinha, enroladas em cobertores e tomando chá de erva cidreira, cada uma com uma caneca diferente, sobreviventes de antigos jogos de porcelana.

Lembro que uma vez convidei uma amiga para passar as férias comigo e que nós apostamos: quem perdesse arrumaria o quarto para as outras no dia seguinte. Isso fez de mim uma razoável jogadora de baralho – arrumação de quarto nunca foi comigo.

E foi assim quase toda a minha infância e adolescência, até que eu saísse da escola e começasse a ter minha própria grana para viagens mais distantes e emocionantes. Mas não tenho dúvida de que hoje, se tivesse que escrever uma redação sobre as “minhas férias”, eu escreveria sobre essas lembranças, tão cheias de aconchego e tranquilidade.

Isso me faz pensar no estilo de vida que vou proporcionar ao meu filho, que já tem bracinhos, perninhas, um coraçãozinho que bate forte e até um pequenino estômago, em formação aqui na minha barriga. Será que o que eu tive será pouco para ele e para o mundo de ansiedades que nos impomos hoje?

Durante o ano passado e inicio deste eu passei pelo menos oito meses pesquisando o consumo na infância, tema escolhido para a conclusão de uma pós graduação em gestão da sustentabilidade na Fundação Getúlio Vargas. E uma das imagens mais impactantes que vi ao longo desse trabalho está no documentário “Criança, a Alma do Negócio”. Há várias crianças numa sala e a pesquisadora fala: “aqui está escrito ‘comprar’ e aqui está escrito ‘brincar’”, colocando os dois papéis no chão para eles escolherem. Todos escolhem “comprar”. Depois uma menina de uns doze anos diz “eu queria morar num shopping!”.

Talvez eu seja fruto de uma geração que viveu com poucas opções de compra e não consiga compreender que, para essas crianças, a felicidade e a diversão possam de fato estar relacionadas ao ato de consumir. Mas minha pesquisa me leva a pensar que não é isso. Sem radicalismos, há cada vez mais evidências de que essa ânsia de consumir está fazendo muito mal para as crianças, para suas famílias e para o planeta. E sem dúvida algo precisa der feito para evitar imagens tristes como as desse documentário. Proibir a comunicação mercadológica para as crianças é uma saída. Conscientizar os pais de que o melhor a fazer é tirar seu filho da frente da televisão é outra.

Eu, que ainda tenho pelo menos um ano para começar a me preocupar com isso, já estou aqui pensando nas minhas estratégias para mostrar ao meu filho que há coisas bem mais legais pra fazer na vida que acumular quinquilharias…

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